quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Contribuição do Grupode de Trabalho Universidade Popular - GTUP


A UNIVERSIDADE POPULAR EM MOVIMENTO

1.      A Universidade Popular como Projeto

            No Congresso de 2009 propusemos o aprofundamento de um tema que até então não estava presente na UFRGS, exceto como slogan ou palavra de ordem: Universidade Popular. Justamente por ter se tratado de um debate inicial, a discussão trazida então poderia parecer hoje superada; contudo, a aglutinação de interesses gerados a partir das discussões e acúmulos do Congresso culminou na criação do GTUP (Grupo de Trabalho Universidade Popular)[1], que tem buscado um aprofundamento teórico e experiências práticas de luta por uma Universidade diferente. O GTUP é formado por professores, servidores e alunos – independentes ou vinculados a outras organizações políticas – que a despeito de suas diferenças se colocam um objetivo comum: a luta pela Universidade Popular, demonstrando que é possível a construção de um movimento plural desde que renovemos os nossos métodos.
Em vários momentos o movimento estudantil criticou a Universidade que temos hoje, demonstrando suas contradições, mas sem fazer proposições que ultrapassassem o imediato e abarcassem uma reflexão mais ampla sobre suas causas. Isso levou um grupo de estudantes a pensar e pautar um modelo diferente de Universidade[2]: sem discriminação de acesso e com real articulação entre ensino, pesquisa e extensão; um modelo socialmente referenciado, que tenha as reais demandas do povo como critério de orientação da atividade universitária; uma universidade que proporcione uma formação omnilateral de base sólida, com conhecimentos que desenvolvam potencialidades para além da atuação profissional; uma universidade sem castas, onde as decisões sejam democráticas e participativas, e que seja de fato pública, com autonomia de financiamento, reflexão e ação. Essa Universidade não é uma abstração: seria, se não houvesse gente disposta a construí-la hoje e agora; mas nós estamos, e não sozinhos. Nossa contribuição nesse Congresso é trazer uma Universidade Popular em movimento, ligada a ações concretas e não a idealizações ou hipóteses.



2.      O GTUP e as Iniciativas por uma Universidade Popular

A partir da formação do GTUP, percebemos a necessidade de pôr em prática a concepção de Universidade que havíamos construído, e para isso precisávamos superar as noções abstratas e distantes, apegando-nos ao que é concreto e efetivo. No esforço cotidiano de disputa dos rumos da Universidade, a simples crítica com palavras é inútil ("aqueles mesmos discursos de sempre", se diz). Descoladas de uma atuação prática, as palavras – inflamadas, sofisticadas ou bem referenciadas – só servem para legitimar o modelo existente, dando-lhe uma aparência muito mais plural do que ele de fato é. É preciso botar a mão na massa, porque somente aí nos deparamos com os autoritarismos, o personalismo e os limites da "pluralidade" da Universidade. Com base nisso, gostaríamos de compartilhar com os estudantes da UFRGS um pouco da nossa trajetória de ação e a reflexão que dela extraímos.
Mal havíamos nos constituído como um coletivo quando tomamos conhecimento sobre o projeto do Parque Tecnológico da UFRGS, em 2009. Julgamos que seria uma oportunidade para inserir nosso debate sobre ciência e tecnologia, propondo uma produção de conhecimento pública e socialmente referenciada. No entanto, o Parque estava sendo aprovado a toque de caixa, e não havia espaço para reflexões. Partimos para a agitação, contestando a forma anti-democrática como se conduzia um projeto decisivo para a UFRGS, e nisso contamos com o apoio de diversos grupos da UFRGS e de fora dela. Conseguimos tirar o Parque Tecnológico de uma seleta reunião de setenta conselheiros e jogá-lo na universidade e nos jornais – em que fomos alvo, aliás, de uma tremenda campanha de desinformação. Em nenhum momento adotamos a posição do "se há parque, sou contra", e inclusive conseguimos, no olho do furacão, montar uma comissão de professores e estudantes que redigiu um mérito alternativo para o Parque Tecnológico, que foi entregue aos ilustres conselheiros no CONSUN e solenemente ignorada por eles[3].
Seria simples dizer que o Parque Tecnológico foi uma derrota porque as linhas gerais do projeto aprovado foram inalteradas. Ao contrário, essa luta foi uma demonstração de força, com repercussão nacional, do movimento universitário da UFRGS, o que também consolidou o GTUP como um grupo real de luta, articulação e formação. A publicação do mérito alternativo do Parque Tecnológico representou nosso esforço de ir além da crítica e da rejeição, de não nos restringirmos à defensiva e demonstrar que temos projeto para a Universidade e que estamos dispostos a pautá-lo na sociedade. Dessa forma, amadureceu nossa avaliação de que a Universidade que temos não é um caso perdido. Se ela fosse, estaríamos nos organizando somente em outros espaços. A Universidade é uma instituição hegemonicamente conservadora, mas que não é capaz de conter as diversas iniciativas que brotam dela para desafiar sua lógica dominante, seja no ensino, na pesquisa, na extensão ou mesmo fora deles.
Essa avaliação foi a mola propulsora da campanha Nós Construímos a Universidade Popular, que busca identificar e aproximar os grupos que trabalham com uma perspectiva contra-hegemônica de Universidade, associando-se aos movimentos sociais populares, questionando o produtivismo e o individualismo acadêmico, aprofundando a democracia interna da instituição, pautando seu caráter público, integrando áreas do conhecimento e, obviamente, adotando as demandas reais do povo como eixo da atividade universitária[4]. Ao buscar essas iniciativas de resistência encontramos uma grande diversidade de projetos que tensionam o modelo tradicional de Universidade no Brasil, como é o caso da Articulação Nacional de Extensão Popular, das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP’s), dos núcleos de formação em saúde coletiva (UFBA, UFRJ, etc.), dos cursos de graduação e pós-graduação oferecidos pelo PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), dos Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIV’s), dos grupos de estudo em agroecologia e permacultura, de grupos de assessoria jurídica popular, bem como de iniciativas locais como o Grupo de Pesquisa em Extensão Popular (UFPB), o Laboratório de Espaço Público e Direito à Cidade (USP), o Laboratório de Políticas Públicas (UERJ), o Núcleo de Economia Alternativa (UFRGS), etc.
O início dessa campanha está permitindo que nos articulemos com vários grupos da UFRGS, colocando a Universidade Popular em movimento. Além da articulação como forma de fortalecer esses grupos, buscamos nos inserir organicamente na construção do EIV/RS, que caminha para sua 3ª edição[5], em parceria com movimentos sociais e outros grupos políticos. Também articulamos na UFRGS a realização do Plebiscito Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra[6] - proposto por movimentos sociais camponeses, sindicais e eclesiásticos -, que coletou meio milhão de votos no Brasil inteiro a favor da reforma agrária e da agricultura camponesa, orgânica e policultora.
De outro lado, buscamos fortalecer as entidades estudantis de base (DA’s e CA’s), com quem estamos articulando a Campanha da Paridade nas eleições e órgãos colegiados[7]. Essa campanha, além de fomentar o engajamento dessas organizações estudantis, permite que os três segmentos da Universidade trabalhem uma pauta comum e concreta, com chances reais de vitória. Sendo assim, o objetivo estratégico dessa campanha, sem menosprezar os avanços pontuais da representação relativa de estudantes e técnicos, é o saldo organizativo que ela pode trazer para o movimento universitário.
Por fim, nos dias 2, 3 e 4 de setembro de 2011, a UFRGS foi sede do I Seminário Nacional de Universidade Popular (SENUP), uma construção conjunta de organizações de todo Brasil que debatem a transformação da universidade brasileira, vendo-a como possível e necessária. O seminário colocou-se como um primeiro passo para a construção de uma Universidade crítica, criadora e emancipatória. A participação de mais de 500 pessoas no I SENUP demonstra a relevância do tema e a necessidade de expandir o debate dentro e fora da Universidade, a fim de que toda a sociedade seja sujeito na construção do modelo de ensino superior que queremos para o Brasil.

3.      A Universidade Popular e a Reorganização do Movimento Estudantil

No debate sobre o movimento estudantil, partimos da perspectiva de que nosso principal problema é organizativo. Acreditamos que não adianta o movimento estudantil pautar o seu projeto máximo de Universidade e sociedade se não houver gente organizada em torno dele. Isso implica mediações táticas e abertura ao diálogo para que o movimento volte a ter um caráter amplo e massivo. Em contraposição à apatia política que tomou conta de boa parte da juventude, é preciso agregar consensos e reafirmar nosso protagonismo enquanto movimento. Podemos ser lembrados pelos que virão como aqueles que pautaram um modelo de Universidade que foi além do conformismo com o presente e dos marcos teóricos hegemônicos, disputando esse projeto alternativo no seu cotidiano.
Para acumularmos força e deixarmos um saldo organizativo para nosso tempo histórico, é necessário entendermos que as grandes transformações sociais não são obra de indivíduos isolados ou de alguns poucos grupos políticos. Transformar a sociedade e a Universidade é obra de muitos braços e muitas pernas (e talvez gerações). Por isso, a unidade do movimento estudantil está na ordem do dia, sendo precondição para que concretizemos nossos sonhos e anseios de ver no presente o embrião do que queremos para o futuro.
É por isso que queremos ir além da polarização que está colocada para o movimento estudantil atualmente, pensando prioritariamente no que nos agrega, e não no que nos separa. O 1º SENUP[8] foi um marco para nós de que é possível a unidade de diversas forças políticas, grupos estudantis, coletivos e estudantes independentes, os quais se movimentam sob uma bandeira geral, que é a defesa de uma Universidade pública e referenciada nas necessidades de nosso povo.
Isso não implica que não tenhamos nossas diferenças, algumas pontuais, outras mais profundas. Por isso, nunca foi objetivo do SENUP substituir as organizações existentes, e tampouco virar outra entidade representativa. Ao contrário, queremos fortalecer as organizações existentes, animando um amplo movimento que contribua com um projeto de Universidade Popular mais sistematizado e com uma militância mais engajada e disposta a enfrentar os desafios do nosso tempo. Nessa proposta, sabemos que não estamos sozinhos.
Consideramos fundamental consolidar um campo político composto por indivíduos, coletivos, movimentos e quaisquer outras entidades que se articulam em torno desse projeto estratégico que chamamos de Universidade Popular. Nesse momento, não pretendemos ter um movimento absolutamente formatado, com adesões formais ou estrutura organizativa única. Buscaremos nos unificar com pessoas e grupos que carreguem essa bandeira nos seus locais de atuações, buscando, a partir disso, fortalecer nossas organizações locais e contribuir para a organização dos estudantes e do movimento universitário como um todo.

CRIAR, CRIAR, UNIVERSIDADE POPULAR!


[2] Ver em: http://gtup.wordpress.com/quem-somos/
[3] Ver em http://observatoriodoparque.blogspot.com/ e http://gtup.wordpress.com/category/parque-tecnologico/

[4] Ver: http://gtup.wordpress.com/nos-construimos-uma-universidade-popular/
[5] Ver em: http://eivrs.wordpress.com/
[6] Ver em: http://www.limitedaterra.org.br/
[7] Ver em http://paridade33.blogspot.com/
[8] Ver em: http://senup2011.blogspot.com/


Adriano Saraiva Amaral                    PPG Administração
Alex Renato da Silva                         História
Aliziane Bandeira Kersting                Ciências Sociais
Allan Santin Garcia                            Economia
Ana Júlia Possamai                             PPG Ciência Política
Ana Paula Metz Costa                                   Ciências Biológicas
Anaís Medeiros Passos                      Relações Internacionais
Araton Cardoso Costa                       Educação Física
Débora Machado Nunes                    Ciências Econômicas
Diogo Ives de Quadros                      Relações Internacionais
Eduardo Schindler                             PPG Ciência Política
Eric Souza Sales                                 Química
Gabriel Britto                                     Ciências Contábeis
Gabriel Cassali dos Santos                 Ciências Sociais
Gabriel Dias Martins                         Educação Física
Gabriel Marques Portal                      Ciência da Computação
Gerson de Lima Oliveira                    Ciências Sociais/Sociologia
Glauco Ludwig Araujo                      PPG Sociologia
Guilherme Koszeniewski Rolim        Química
Guilherme Silva de Farias                  Ciências Sociais
Gustavo Antônio Schröpfer               Educação Física
Gustavo Koszeniewski Rolim                       História
Jason Maciel Ponciano                       Educação Física
Joana Ludwig Araujo                                    Pedagogia
Joana Oliveira de Oliveira                  Relações Internacionais
João Gabriel Burmann da Costa        Relações Internacionais
João Marcelo Conte Cornetet                        Relações Internacionais
Laura Spritzer Galli    História
Luiz Celso Sá Fronckowiak Wolker  Educação Física
Manoela Donaduce Flores                 Economia
Mariana Seabra Souza Pereira           Enfermagem
Marina Jerusalinsky                            Artes Visuais
Martin Andrés Moreira Zamora         Economia
Matheus Gonçalves de Castro                       Comunicação Social - Hab. Pub. e Prop.
Natasha Pergher Silva                        Relações Internacionais
Paula Britto Agliardi                          Ciências Sociais
Pedro dos Santos de Borba               Letras
Pedro Txai Leal Brancher                  Relações Internacionais
Priscila Siebeneichler                         Enfermagem
Ricardo Ferreira da Silva                   Educação Física
Ricardo Librenz da Rocha                 Rel. Internacionais
Rodrigo Baggio                                  PPG Zootecnia
Sofia Pellisoli                                      Pedagogia
Taiane de Bittencourt                         Relações Internacionais
Tanise Baptista de Medeiros             História
Vagner Eifler                                      História
Vanessa Ames Schommer                  Fisioterapia
Vitor Albuquerque Guimarães           Direito

Um comentário:

  1. Faltou o meu nome, pq eu não o encaminhei a tempo, mas também apoio a tese.
    Ísis Lagemann Selau - Letras

    ResponderExcluir